E se você fosse... Léia
“Então
Jacó disse a Labão: Dá-me minha mulher, porque o tempo já está cumprido; para
que eu a tome por mulher. Reuniu, pois, Labão todos os homens do lugar, e fez
um banquete.
À tarde
tomou a Léia, sua filha e a trouxe a Jacó, que esteve com ela. E Labão deu sua
serva Zilpa por serva a Léia, sua filha.
Quando
amanheceu, eis que era Léia; pelo que perguntou Jacó a Labão:
_Que é
isto que me fizeste? Porventura não te servi em troca de Raquel? Por que,
então, me enganaste?”
(Gênesis 29.21-25)
Uiiii! Que mancada, hein? Pense como uma garota
planeja o dia do seu casamento. Vestido de noiva, véu, grinalda, buquê, o bolo,
os convidados. O dia em que ela vai ser o centro das atenções. O dia dela. Dia
dela?! Era o dia da irmã dela!
Eu sei que as irmãs costumam
participar bastante do casamento da outra. Elas ajudam a escolher o vestido.
Dão palpites na decoração e até organizam o chá de panela, mas isso não inclui
dormir com o noivo na noite de núpcias. Ah, isso não mesmo! Em cultura nenhuma.
“Respondeu Labão: Não se faz assim em
nossa terra; não se dá a menor antes da primogênita.” (Gênesis 29.26) OK!
Tudo bem. Talvez naquela cultura isso fosse permitido. Ou não, sei lá! Parece
traição demais. Se Jacó não podia se casar com Raquel antes de Léia estar
casada, tinha que ser avisado primeiro, não acham? Alguém tinha que ter dado um
toque nele. Quem sabe ele não tinha dado até uma forcinha pra arranjar um
marido pra ela?
Eu não sei que tipo de trato o pai de Léia
fez com ela. Eu não sei se ela foi obrigada a tomar o lugar de Raquel. Na
cultura daquele tempo as mulheres não costumavam ter muita voz. Não sei se este
era o caso daquela família. Muitos anos antes, a tia e sogra dela, Rebeca, foi
consultada pelo próprio Labão se deveria acompanhar o servo de Abraão para se
casar com Isaque.
“Disseram
o irmão e a mãe da donzela:
_ Fique
ela conosco alguns dias, pelo menos dez dias; e depois irá.
Ele,
porém, lhes respondeu:
_ Não
me detenhas, visto que o Senhor me tem prosperado o caminho; deixai-me partir,
para que eu volte a meu senhor.
Disseram-lhe:
_ Chamaremos
a donzela, e perguntaremos a ela mesma.
Chamaram,
pois, a Rebeca, e lhe perguntaram:
_ Irás
tu com este home?
Respondeu ela:
_ Irei.”
(Gênesis
24.55-58)
Talvez elas não fossem tão
desconsideradas assim. Eu não sei se Raquel sabia do caso ou se também foi
enganada como Jacó. O problema todo é que Léia sabia. Sinceridade num
relacionamento é fator totalmente importante.
Você deve estar pensando: “Pobre moça. Ela foi obrigada pelo pai. Quem
ia querer um casamento desse tipo? Talvez ela nem gostasse dele também.” Será?
“Ora,
saiu Rúben nos dias da ceifa do trigo e achou mandrágoras no campo, e as trouxe
a Léia, sua mãe.
Então
disse Raquel a Léia:
_ Dá-me,
peço, das mandrágoras de teu filho.
Ao que
lhe respondeu Léia:
_ É já pouco que me hajas tirado meu marido? Queres
tirar também as mandrágoras de meu filho?
Prosseguiu
Raquel:
_ Por
isso ele se deitará contigo esta noite pelas mandrágoras de teu filho.
Quando,
pois, Jacó veio à tarde do campo, saiu-lhe Léia ao encontro e disse:
_ Hás
de estar comigo, porque certamente te aluguei pelas mandrágoras de meu filho.
E com
ela deitou-se Jacó aquela noite.” (Gênesis 30.14-16)
É, gente! Ela gostava dele sim. Acho
que neste caso estava até faltando um pouco de amor próprio, mas tudo bem.
Vamos dar um voto de confiança à Léia. Uma vez estávamos preocupados com a escolha
de um tema para um importante trabalho na faculdade e o professor nos disse: “Deixem disso! Escolham qualquer tema e
comecem logo o trabalho. É como no casamento, o amor vem com o tempo.”
É claro que ele estava brincando, mas
mesmo assim, ficamos horrorizados. Mas este era um pensamento recorrente entre
os mais antigos. Não pensem que sou uma delas, viu? Eu não sou tão antiga assim.
Então vamos contar com isso e pensar
que Léia só passou a gostar de Jacó depois que já estava casada com ele. Mas
sinceramente, tenho minhas dúvidas.
Pensem naquele primo distante que
chega de uma terra mais distante ainda e cai de pára-quedas bem na casa dela.
Aí você vai pensar: “Meu primo? Que nojo!”
Pensamento correto. O ideal é que primos não se casem por causa de problema de
formação dos filhos ou doenças recessivas, mas em muitas culturas casamento
entre primos são usuais. Na nossa própria cultura este tipo de união é
aceitável. Até certo ponto, é claro! As
tias nunca olham com bons olhos!
Voltando ao primo recém-chegado. “Olha que gato!” Ela deve ter pensado. “E ele é forte e cavalheiro!” Olhem o
que certamente ela deve ter ouvido falar sobre ele:
“Perguntou-lhes
Jacó:
_ Meus irmãos, donde sois?
Responderam
eles:
_ Somos
de Harã.
Perguntou-lhes
mais:
_ Conheceis
a Labão, filho de Naor?
Responderam:
_ Conhecemos.
Perguntou-lhes
ainda:
_ Vai
ele bem?
Responderam:
_ Vai
bem; e eis ali Raquel, sua filha, que vem chegando com as ovelhas.
Disse
ele:
_Eis
que ainda vai alto o dia; não é hora de se ajuntar o gado; dai de beber às
ovelhas, e ide apascentá-las.
Responderam:
_Não
podemos, até que todos os rebanhos se ajuntem, e seja removida a pedra da boca
do poço; assim é que damos de beber às ovelhas.
Enquanto
Jacó ainda lhes falava, chegou Raquel com as ovelhas de seu pai; porquanto era
ela quem as apascentava. Quando Jacó viu a Raquel, filha de Labão, irmão de sua
mãe, e as ovelhas de Labão, irmão de sua mãe, chegou-se, revolveu a pedra da
boca do poço e deu de beber às ovelhas de Labão, irmão de sua mãe.Então Jacó
beijou a Raquel e, levantando a voz, chorou.” (Gênesis 24.4-11)
“E
ainda é sensível! Acho o máximo rapazes que choram!” Terra chamando Léia!
O problema aqui é que Raquel já tinha
visto primeiro. “É meu, ninguém tasca!” É
claro que isso não é requisito para que uma menina seja “dona” de um garoto.
Mas é uma espécie de acordo entre damas de nossa cultura. OK! Eu sei, tem muita
gente desrespeitando esse acordo. Mas o que todas nós esperamos é que seja
assim, não é mesmo?
Daí, se o menino não quer, se ele não
se mexe, se ele mostra interesse por outra... Tudo bem, está liberado! O
problema era que Jacó não estava liberado.
“Jacó,
porquanto amava a Raquel, disse:
_ Sete
anos te servirei para ter a Raquel, tua filha mais moça.
Respondeu
Labão:
_ Melhor
é que eu a dê a ti do que a outro; fica comigo.
Assim
serviu Jacó sete anos por causa de Raquel; e estes lhe pareciam como poucos
dias, pelo muito que a amava.” (Gênesis 29.18-20)
Gente! O garoto estava apaixonado. Ele
trabalhou sete anos de graça pro pai dela e nem viu o tempo passar porque a
amava! Que coisa mais fofa!
Aí está
o problema. Garoto apaixonado + Amor correspondido = Garoto indisponível.
A regrinha é muito simples e não adianta
querer tentar novas variantes. Uma pessoa estava sobrando naquela equação e
aquela pessoa era a Léia. Ela podia até pensar: “Mas eu sou a mais velha, tenho direito de ...” Procurar outro
cara disponível! É o que eu responderia pra ela.
Ao analisar um casal, muitas meninas
pensam. “Mas eu sou mais bonita do que
ela.” “Mas eu sou mais velha do que ela.” “Mas eu o conheço a mais tempo.” “
Mas eu combino muito mais com ele.”
Chega de mas, mas. Não é correto se
intrometer entre um amor. Muito menos quando este casal já estiver formado: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não
cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu
boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.” (Êxodo 20.17)
Aqui também vale as roupas, os sapatos e principalmente os namorados das suas amigas.
Eu não sei que parcela de culpa Léia teve
nesse triângulo amoroso em que viveu com sua própria irmã. Eu não sei se alguma
vez ela foi realmente feliz ou se teve que pagar por isto o resto da sua vida.
Ela pode até não ter sido a mentora desse crime que seu pai cometeu contra
Jacó. Mas ela poderia não ter ficado calada. Teria se poupado de muita dor de
cabeça.
Então,
amiga, se você fosse Léia, eu te aconselharia a gritar bem alto:
_
Alô, rapaz! Antes que seja tarde para nós dois, preciso te avisar uma coisa:
Você está com a garota errada!
Rose Amaral
Junho de 2014
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