LIDANDO
COM DOENTES TERMINAIS
“E o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o
deu.” (Eclesiastes 2.7)
Vale lembrar que
a morte é uma conseqüência da vida. “Até
que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás.” (Gênesis 3.19). Sabemos que a morte é consequência
do pecado, mas, desde Adão, é uma coisa para qual todos devem estar preparados.
É claro que ninguém quer morrer. Nós não fomos feitos pra isso. Mas esta é a
ordem natural das coisas. “Portanto, assim como por um só homem entrou
o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim também a morte passou a
todos os homens, porquanto todos pecaram.” (Romanos 5.12)
É claro que devemos
orar para que o Senhor restaure as forças de um doente. Devemos crer que Deus
tem poder para curar, mas se um paciente vier a falecer, o capelão não deve
retroceder, nem achar que seu trabalho foi em vão. Muitas curas acontecem nos
hospitais, as pessoas, tanto médicos quanto pacientes, estão lá para isso. Mas
quando a morte for inevitável, o capelão deve estar preparado para isso. Resta
confortar a família e continuar o trabalho.
Uma das mais duras
realidades é o trabalho com doentes terminais. Aquelas pessoas que estão lá à
espera de duas coisas: a própria morte um milagre.
A dor da morte é incalculável
e psiquiatras a dividem em cinco estágios:
a) Primeiro Estágio: negação e
isolamento
A negação e o isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a negação e o isolamento não persistem por muito tempo.
O capelão deve estar preparado para
este tipo de paciente. Muitas vezes pode haver uma rejeição por parte do
paciente em receber o capelão. Ore para que Deus dê a direção. Não desista
dessa pessoa. Ela, mais do que ninguém é que está precisando de Deus neste
momento. Mas é preciso que se tenha cautela e sabedoria neste momento. Mostre
amor, carinho e compreensão. Saiba que esta pessoa está passando por um momento
muito difícil. Não se sinta ofendido. Compreenda este momento de dor.
b) Segundo Estágio: raiva
Por causa da raiva, que surge devido à impossibilidade do Ego manter a negação e o isolamento, os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta, inveja e ressentimento.
Por causa da raiva, que surge devido à impossibilidade do Ego manter a negação e o isolamento, os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta, inveja e ressentimento.
Nessa fase, a dor psíquica do
enfrentamento da morte se manifesta por atitudes agressivas e de revolta: “Porque comigo?” A revolta pode assumir
proporções: “Com tanta gente ruim pra
morrer porque eu, eu que sempre fiz o bem, sempre trabalhei e fui honesto?”
Se no primeiro estágio o paciente já
era difícil, imagine neste. O capelão deve estar preparado. Se sobra até para
família, por que não sobraria para o capelão que muitas vezes é considerado
pelo paciente como o mais próximo representante de Deus na terra?
Tenha discernimento. Continue
orando. A obra de visitas em hospitais é muito estreita e é necessário se
preparar para ela.
Transformar a dor psíquica em agressão é, mais ou menos, o que acontece em crianças com depressão. É importante, nesse estágio, haver compreensão dos demais sobre a angústia transformada em raiva na pessoa que sente interrompidas suas atividades de vida pela doença ou pela morte.
Transformar a dor psíquica em agressão é, mais ou menos, o que acontece em crianças com depressão. É importante, nesse estágio, haver compreensão dos demais sobre a angústia transformada em raiva na pessoa que sente interrompidas suas atividades de vida pela doença ou pela morte.
Pessoas neste estágio são difíceis
de líder. A própria família pode estar cansada. Ofereça auxílio aos familiares
também. Muitos acompanhantes de pacientes neste estágio estão esgotados e
debilitados. Ofereça conforto aos mesmos.
c) Terceiro Estágio: barganha
Havendo deixado de lado a negação e o isolamento, percebendo que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no terceiro estágio; a barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.
Como dificilmente a pessoa tem alguma coisa a oferecer a Deus, além de sua vida, e como Este parece estar tomando-a, quer a pessoa queira ou não, as barganhas assumem mais as características de súplicas.
A pessoa implora que Deus aceite sua “oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja, aos pobres, à caridade, etc. Na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento. Nessa fase o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostiliza pessoas).
Havendo deixado de lado a negação e o isolamento, percebendo que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no terceiro estágio; a barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.
Como dificilmente a pessoa tem alguma coisa a oferecer a Deus, além de sua vida, e como Este parece estar tomando-a, quer a pessoa queira ou não, as barganhas assumem mais as características de súplicas.
A pessoa implora que Deus aceite sua “oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja, aos pobres, à caridade, etc. Na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento. Nessa fase o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostiliza pessoas).
É nesta fase que o capelão terá a
melhor receptividade por parte do paciente. Ele não ganhou nada hostilizando.
Se não acreditava em Deus, vai passar a acreditar. Sendo você um representante
de Deus, é nesta hora que ele irá recebê-lo melhor. Vai te pedir ajuda, oração.
Mas lembre-se de uma coisa, muitas vezes, tudo que ele está querendo de você é
uma cura. Ele acha que VOCÊ pode curá-lo.
A cura é uma dádiva divina, mas não é por ela que devemos
procurar Deus. Devemos procurar Deus para sermos salvos. Lembre-se que a salvação
deste paciente é o seu objetivo principal. Se um doente pelo qual você orou
faleceu, não fique pensando que Deus não o amava e por isso deixou que ele
morresse. A morte acontece na vida de qualquer pessoa. “Preciosa
é à vista do Senhor a morte dos seus santos.” (Salmos 116.15). Lembre-se que a morte não o fim. Estamos trabalhando em
prol de uma vida eterna.
d) Quarto Estágio: depressão
A depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas condições de doente, quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. Evidentemente, trata-se de uma atitude evolutiva; negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. Surge então um sentimento de grande perda. É o sofrimento e a dor psíquica de quem percebe a realidade nua e crua, como ela é realmente, é a consciência plena de que nascemos e morremos sozinhos. Aqui a depressão assume um quadro clínico mais típico e característico; desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro, etc.
Neta fase o paciente não será tão
agressivo com o capelão quanto na fase da raiva, mas não será tão receptivo
quanto na fase anterior. Nesta fase ele está precisando de ânimo, palavras de
consolo. Procure mostrar-se carinhoso. Mostre passagens bíblicas que dêem
conforto. Vale lembrar que o Salmo 23 será de grande valia nesta ora:
1 O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.
2 Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me
mansamente a águas tranqüilas.
3 Refrigera a minha alma; guia-me nas veredas da
justiça por amor do seu nome.
4 Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não
temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me
consolam.
5 Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus
inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice transborda.
6 Certamente que a bondade e a misericórdia me
seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos
dias.
Deus é o nosso pastor, o nosso refúgio, é ele quem está
conosco numa ora tão dolorosa. Mostre ao paciente que ele não está esquecido
por Deus. Mostre a ele que é o Senhor quem nos faz caminhar à águas tranqüilas,
que ele é bom e tem misericórdia de nós.
a)
Quinto Estágio:
aceitação
Nesse estágio o paciente já não
experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso
e serenidade antes da longa viagem. Ele já aceitou, a família pode ter aceitado
também. É necessário, que você, capelão, também esteja preparado para isso. É hora
de apontar a porta de saída.
Você queria que ele ficasse curado.
Todos queriam, mas a realidade é que ele está partindo. Ajude-o a encontrar a
porta de saída:
“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá,
e achará pastagens.” (João 10.9)
Jesus
é a porta. Nesta hora o paciente estará pronto para reconciliar-se com Deus.
Mostre que Jesus é o caminho. Mostre que Jesus estará pronto para recebê-lo de
braços abertos. Ofereça conforta à família. Nesta ora de dor, nem mesmo o capelão
estará imune. A dor da partida é muito difícil. Tenha cuidado em não se
desesperar. Procure ser calmo. Dê forças para quem estiver precisando de você. “A ansiedade no coração do homem o abate,
mas a boa palavra o alegra.” (Pv.12:25)